MONTANDO UMA CARTEIRA DE INVESTIMENTOS - PARTE 1

RESUMO: alguns fatores a serem levados em conta na montagem de uma carteira de investimentos.


A carteira de investimentos

Um dia, por algum motivo, sobrou um dinheiro na poupança que não tinha um destino planejado. Pelo menos não para o curto prazo. E então você ouviu falar que teria rendimentos melhores em um CDB/LCI/LCA, ou aplicando no Tesouro Direto ou que, no longo prazo, nada supera o investimento em ações de empresas sólidas, e então saiu da poupança para aquele produto, e depois experimentou um diferente, e outro, e mais outro...

Essa é, acredito eu, a forma mais comum e positiva da entrada consciente no mundo dos investimentos. (Existem também aquelas maneiras trágicas e, infelizmente, nada incomuns: o título de capitalização do banco que o gerente jurou ser excelente, a "fácil" e lucrativa operação na bolsa que "nem precisa empatar o dinheiro, já que você pode alavancar!", etc).

Usualmente, damos o primeiro passo além da poupança e começamos a diversificação no mundo dos investimentos escolhendo um produto. É aquele CDB do Banco X com taxa tal, aquela ação da empresa Y, aquele fundo imobiliário com tais e quais imóveis no portfólio. Mas as boas práticas de planejamento financeiro ensinam que a escolha do produto não é senão o último passo da composição da carteira. Muito antes disso, é necessário planejar o mais racionalmente possível a composição da carteira onde aquele produto em específico vai se encaixar.

Primeiro montamos a estante completa e só depois vamos escolher os produtos que melhor preenchem cada um dos seus nichos.

Esse é, do ponto de vista lógico, o primeiro passo lógico, mas também o mais negligenciado no início da vida financeira. E - verdade seja dita - é até natural que seja ignorado em um primeiro momento. Afinal, como planejar toda uma constelação de investimentos financeiros se eu mal conheço os produtos que existem no mercado e suas características? Salvo raríssimas (e elogiáveis) exceções, a vontade de investir e a disponibilidade de capital (mesmo que pequeno) vêm antes do conhecimento necessário.

Mas há um momento em que é primordial ter em conta o todo para se sentir realmente no controle da vida financeira. Às vezes fazemos isso de forma mais ou menos espontânea, escolhendo os produtos com uma vaga ideia do que aquilo representa no universo da carteira. E assim vamos adiando indefinidamente um planejamento mais cuidadoso.

Eu poupo desde o meu exploratório salário inferior ao mínimo na adolescência, que mal pagava condução, lanche e um pouco das contas de casa para aliviar o esforço dos meus pais. Ainda assim, só agora, décadas depois e com um patrimônio de mais de meio milhão, eu realmente parei para planejar meus investimentos e uma perspectiva global.

Quem é você-investidor

A primeira etapa da definição da carteira é a descoberta do seu perfil de investidor (suitability). A grosso modo, onde você está entre as categorias de CONSERVADOR, MODERADO ou AGRESSIVO.

Não se trata do seu humor do dia ou do apetite para lucro.A análise de perfil de investidor do cliente é feita por todas as instituições financeiras, até mesmo por determinação do Banco Central, e envolve diversas variáveis, tais como o nível de escolaridade, renda, patrimônio, experiência com diversas espécies de produtos financeiros, etc.

Sendo assim, antes de fazer uma autoavaliação, que costuma ser enganosa, é importante refazer o teste na página da internet do seu banco ou corretora. Diversos sites sobre finanças também disponibilizam seus próprios testes e podem complementar essa avaliação.

O resultado da análise fornece uma indicação geral do seu comportamento no mundo dos investimentos. As pessoas de perfil conservador priorizam a proteção do patrimônio tanto contra a perda de valor no longo prazo quanto contra as oscilações de curto prazo. No outro extremo, os agressivos buscam rentabilizar o patrimônio aceitando algum grau de risco de perda - principalmente no curto prazo mas o risco também se estende para uma perspectiva mais longa. Ficando o moderado em algum lugar entre os dois.

Normalmente as instituições financeiras fornecem uma "carteira recomendada" para cada um dos perfis de investidores, com um balanceamento entre as classes de ativos. Em resumo, as carteiras mais conservadoras tem um peso maior de produtos de renda fixa e as mais agressivas de renda variável, embora no interior de cada uma dessas classes também seja possível a escolha de produtos mais conservadores ou mais arrojados.

A distribuição de ativos em cada carteira recomendada não é um parâmetro absoluto, mas é um bom ponto de partida porque as alocações variam de acordo com as condições gerais da economia.

Aqui acho importante fazer um parêntese. Vivemos tempos estranhos em que a ciência parece estar perdendo espaço para a opinião infundada e o idiota da aldeia não se sente constrangido em contrapor um especialista. É a época em que a negativa do aquecimento global, a alegação de que vacinas causam autismo ou de que a Terra é plana são compartilhadas abertamente nas redes sociais, inclusive por pessoas públicas, sem o menor constrangimento. Não quero me aprofundar na questão. Basta dizer que tenho em alta conta a opinião de especialistas e me vigio para não incorrer em uma superioridade ilusória.

Quando uma hipotética carteira recomendada para um investidor agressivo é alterada para mudar a alocação sugerida em renda variável de 50 para 40% do patrimônio é porque existem alguns sinais, sob a ótica daqueles analistas, de que o investimento em renda variável se tornou menos interessante. Não se trata de uma verdade absoluta. Pode ser comparada com as opiniões de outros analistas e destrinchada em seus fundamentos, mas não deve ser ignorada.

Depois de conhecer (e, se for o caso, adaptar) a carteira recomendada para o seu perfil por classe de ativos, é o momento da escolha mais específica acerca dos tipos de produtos e valores alocados em cada um deles.

A diversificação, por si só, já é indispensável para a diminuição dos riscos. Mas a definição dos tipos de produtos também deve observar, mais uma vez, o seu perfil de investidor, suas necessidades financeiras e o trinômio LIQUIDEZ-RENTABILIDADE-RISCO.

Não há dúvidas de que buscamos sempre a maior rentabilidade, mas na hora de decidir quais tipos de ativos vão compor a carteira deve ser levada em conta também a perspectiva de necessidade futura do dinheiro (liquidez) e os riscos que estamos dispostos a correr com determinada parte do patrimônio. É, em resumo, o equilíbrio entre aqueles três fatores:

- por um alta liquidez e rentabilidade, nós nos sujeitamos a um risco também elevado;

- se o importante for ter uma reserva de alta liquidez e sem risco, fatalmente sacrificaremos a rentabilidade;

- produtos de boa rentabilidade e baixo risco existem no mercado mas impõem que se prescinda do dinheiro por prazos mais ou menos longos porque têm baixíssima liquidez.

Todos esses tipos de ativos têm lugar em uma carteira bem equilibrada, qualquer que seja o seu perfil. O mais importante é ter definido qual o montante de cada um deles em sua composição de acordo com as suas necessidades.

Na próxima semana, o processo de composição da minha carteira.

Até lá!

Comentários

  1. Vou acompanhar o post da próxima semana para saber como foi o processo de composição da sua carteira.

    Abraço e bons investimentos.

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  2. Belo post! Vou acompanhar.

    Te add.

    Abs e sucesso.

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