FAZENDA-CELEIRO-DESPENSA: UMA PROPOSTA DE CARTEIRA FIRE

Uma proposta de modelo de gestão da carteira de investimentos para o período FIRE, com uma nova fórmula para calcular o meu índice de independência financeira.


MODELO FAZENDA -> CELEIRO -> DESPENSA

Ganhou espaço recentemente na finansfera um tema que também esteve na minha órbita de interesses nos últimos meses: a composição de uma carteira de investimentos para quem está em FIRE, ou seja, para quem deixou de trabalhar antecipadamente e decidiu viver do rendimento de aplicações financeiras e, por isso, precisa estabelecer uma rotina de saques para fazer frente às despesas.

Ainda não estou tão próximo desse patamar quanto gostaria, mas a preocupação em como fazer a carteira efetivamente gerar renda me surgiu desde logo porque o planejamento deve ocorrer o quanto antes a fim de evitar grandes realocações de dinheiro às vésperas da aposentadoria.

Os blogueiros VVI e AA40 trataram dessa questão recentemente e apresentaram a "estratégia dos baldes" (bucket strategy), elaborada pelo planejador financeiro Harold Evensky nos anos 1980. Deixo os links para as duas postagens para quem tiver interesse em conhecer o modelo.

Em alguma medida, essa abordagem vai ao encontro do que eu já vinha pensando, mas nos detalhes ela é direcionada ao mercado americano (como os dois colegas blogueiros perceberam) e, no geral, acho a metáfora um tanto confusa (qual balde enche e qual é enchido? é possível inverter a relação?).

Minha proposta parte da simplificação máxima de uma cadeia de distribuição básica. O que importa, no período FIRE, é estabelecer como a comida vai chegar à mesa, ou seja, como o dinheiro vai chegar na conta para ser utilizado no dia a dia.

A metáfora que adotei é a do fluxo de um alimento que não recebe processamento: ele é produzido na fazenda, estocado em um celeiro e, depois de uma rápida passagem pelo mercado, vem para a despensa de nossa casa, de onde é consumido aos poucos. E nunca faz o caminho contrário, não volta da dispensa para o celeiro, nem do celeiro para a área de produção de uma fazenda.

A ideia, então, é de que os produtos financeiros sejam divididos em três categorias: fazenda, celeiro e despensa.

Vou explicar cada um deles no sentido inverso, ou seja, mostrando, no período de FIRE, de onde será tirado o dinheiro para as despesas do dia a dia e como ele chegou até lá.

DESPENSA: é a ponta final da cadeia, o dinheiro que vai ser consumido em breve. É tanto o que vai ser gasto no dia a dia (compras, contas, etc.), quanto uma reserva para despesas emergenciais inesperadas.

Penso que o valor ideal para ser mantido na despensa seja, no mínimo, seis meses de gastos mensais, e, no máximo, um ano de despesas.

O importante, na despensa, é garantir a liquidez. Produtos como CDB's D+1, tesouro SELIC, poupança e até a conta corrente podem ser utilizados para gerir esses recursos.

Em um cenário ideal, a despensa vai esvaziando pouco a pouco ao longo dos meses. Quando o nível se aproximar do mínimo estipulado será hora de enchê-la novamente. Vamos ao celeiro!

CELEIRO: é o depósito de recursos que vai ser usado para encher periodicamente a despensa.

Como um depósito, a função mais importante do celeiro é a preservar o que está sendo armazenado, mas a necessidade de liquidez é reduzida, já que a retirada de recursos ocorre apenas de tempos em tempos e pode ser bem planejada.

Cabem bem, no celeiro, produtos como fundos D+30/+60/+90, CDB's sem liquidez e com vencimentos escalonados e outros produtos protegidos pelo FGC.

O monitoramento do montante armazenado no celeiro também é dado em função dos gastos mensais: no mínimo, dois anos de despesas médias; no máximo, quatro anos.

Assim como a despensa, a tendência é que montante de dinheiro no celeiro vá esvaziando pouco a pouco com o tempo. Em poucos anos, estará próximo do nível mínimo e será tempo de ir buscar novos produtos na fazenda.

FAZENDA: é onde está a maior parte do dinheiro acumulado para a aposentadoria e onde ele é usado para produzir mais dinheiro que cai ser utilizado para as despesas no dia a dia. Na fazenda as regras são menos definidas, não faz sentido estabelecer nenhum máximo, e o mínimo deve ser estabelecido de acordo com a taxa segura de retirada anteriormente planejada.

Os produtos financeiros a serem alocados nesta categoria dependem do apetite de riscos do investidor. Aqui, e somente aqui, é o lugar da renda variável, mas também a renda fixa cabe bem na fazenda, especialmente para que seja explorada a rentabilidade mais elevada de produtos com vencimentos mais longos.


HIPÓTESES PRÁTICAS

Para demonstrar como funcionaria, na prática, o modelo que proponho, vou acompanhar um hipotético Epicuro aposentado em sua recém conquista aposentadoria precoce.

Epicuro tem gastos médios mensais de R$ 5 mil e acumulou R$ 2 milhões para a aposentadoria. Ele começa sua vida de aposentado com a despensa e o celeiro cheios e com o resto do dinheiro na fazenda:

Despensa: R$ 60 mil

Celeiro: R$ 240 mil

Fazenda: R$ 1,7 milhão


Cenário IEpicuro passa os seis primeiros meses de aposentadoria em brancas nuvens, gastando os seus R$ 5 mil mensais e agora a despensa tem apenas R$ 30 mil, o limite mínimo estabelecido. Ele acessa os produtos bancários do celeiro e transfere R$ 30 mil, deixando a despensa cheia novamente e o celeiro um pouco abaixo do máximo.

Na quarta vez em que esse processo se repete, ou seja, depois de dois anos de aposentadoria, Epicuro percebe que o celeiro alcançou o nível mínimo de R$ 120 mil, chegando o momento de enchê-lo novamente.

Na fazenda, a intenção não é simplesmente preservar o valor do dinheiro, mas fazê-lo render. Depois de dois anos de aplicações financeiras bem pensadas, a rentabilidade total acumulada foi de 8%, alcançando um montante de R$ 1.836.000,00. Epicuro transfere os recursos que necessita para encher o celeiro novamente e o quadro geral é o seguinte:

Despensa: R$ 60 mil

Celeiro: R$ 240 mil

Fazenda: R$ 1,716 milhão

A situação é confortável. Depois de dois anos, os rendimentos das aplicações financeiras pagaram todas as despesas de Epicuro e ainda deram uma pequena sobra de R$ 16 mil, mesmo com rentabilidade relativamente modesta.


Cenário IINesse outro cenário hipotético, as coisas não correram tão bem para Epicuro no início do período FIRE. Ao longo do primeiro ano, emergências fizeram a despesa anual triplicar, esvaziando completamente a despensa e deixando o celeiro no seu patamar mínimo, o que o obrigaria a buscar mais recursos na fazenda. O problema é que houve um cisne negro no mercado financeiro e os ativos mantidos na fazenda despencaram 20%. A situação de Epicuro é a seguinte:

Despensa: R$ 0

Celeiro: R$ 120 mil

Fazenda: R$ 1,36 milhão

Em um cenário catastrófico desses, não há escolhas fáceis para Epicuro, mas ao menos esse volume mínimo restante no celeiro dá a ele dois anos de despesas pagas para que possa avaliar, com calma, as possibilidades: diminuir os gastos recorrentes para se adequar ao novo patamar financeiro, realizar o prejuízo dos produtos na fazenda trazendo recursos para a segurança do celeiro, apostar na recuperação dos mercados e deixar as coisas como estão, voltar ao mercado de trabalho em busca de uma renda para compensar o prejuízo sofrido, etc.

Não acredito que uma outra forma de pensar a carteira FIRE - seja o modelo dos baldes, seja qualquer outro - teria deixado Epicuro em uma situação melhor. O azar que o hipotético Epicuro do segundo cenário teve assim que parou de trabalhar acabaria por levá-lo a repensar e replanejar sua jornada FIRE. A vantagem, aqui, é a previsibilidade: ele se dá conta de que as coisas vão mal quando ainda possui reservas financeiras suficientes que o permitam alterar a rota sem que sejam necessárias grandes realocações de recursos de forma emergencial (como a venda de ações em baixa, por exemplo).


FUNDAMENTOS DO MODELO

O modelo que eu proponho está fundamentado em alguns pressupostos que devem ser expostos.

1. Disciplina financeira: o dinheiro que paga os gastos rotineiros não vem de uma fonte de renda com pagamentos periódicos, mas do estoque da despensa com recursos suficientes para meses de despesas. Na maior parte dos casos de quem alcançou FIRE e soube lidar com uma reserva de emergência, isso não deve ser um problema, mas talvez algumas pessoas tenham dificuldades em manter as despesas mensais dentro do planejamento quando dispõem de um valor dezenas de vezes maior em conta.

2. Renda "o mais passiva possível": embora o sonho de se aposentar cedo inclua a fantasia de uma eterna despreocupação com o dinheiro, a verdade é que os ativos, quaisquer que sejam eles, dependem de um acompanhamento periódico e a renda assim obtida nunca é completamente passiva. A fazenda do meu modelo depende de uma boa administração, mas como o que está sendo produzido agora só será consumido no futuro (o celeiro e a despensa estão na frente), esse acompanhamento pode ser mais espaçado no tempo, ou seja, pode-se ter uma renda um pouco "mais passiva". Se os produtos que compõem a fazenda forem de baixo risco e não exigirem decisões sobre realocação, é possível que o aposentado só precise verificar com cuidado os rendimentos de seu patrimônio uma vez a cada dois anos, quando recursos precisarem ser transferidos da fazenda para o celeiro.

3. Investimento é sempre para o longo prazo: eu, que nunca tive nenhuma vontade de operar como trader, aprendi com os bons traders que essa atividade de comprar e vender ações no intervalo de minutos deve ser pensada a partir de lapsos temporais muito mais longos: o resultado de uma única operação ou de um conjunto delas em um dia é muito menos importante do que o resultado que se obtém depois de meses. Se isso vale para o trading, vale para qualquer outro investimento. No meu modelo, a despensa é o curto prazo, por isso a liquidez, e não o retorno, é o mais importante; o celeiro é o médio prazo e busca principalmente manter o valor das aplicações; apenas a fazenda é o longo prazo e, portanto, é o lugar dos investimentos. Fazer day trade com parte do dinheiro acumulado para a aposentadoria não é um problema porque é um recurso distanciado daquele que vai ser imediatamente utilizado e, assim, as operações podem ser pensadas em um prazo mais longo, inclusive para diluir o impacto de eventuais prejuízos.

4. Desconfiança com os geradores de renda: o modelo também está calcado em uma profunda desconfiança com o mercado financeiro. Os recursos que serão utilizados nos primeiros cinco anos de FIRE já estão "à mão", ou seja, alocados em produtos seguros e líquidos, na despensa e no celeiro e não dependem da geração de renda. É diferente, por exemplo, de duas outras estratégias de FIRE muito conhecidas: uma carteira de FII's com pagamentos mensais de alugueis ou uma carteira de 12 ações em que cada uma distribui dividendos em um mês do ano. Nessas hipóteses, qualquer problema com o fundo ou com a empresa que faça cessar a distribuição dividendo de uma hora para outra - o que é muito mais comum do que parece - tem impactos imediatos nos rendimentos mensais e exige adaptações urgentes no estilo de vida ou o saque da reserva de emergência. Tanto FII's quanto ações são bem vindos no modelo, mas o lugar deles é na fazenda e os rendimentos serão reinvestidos ou transferidos para o celeiro e não estão ligados ao consumo imediato próprio da despensa.

5. Conservadorismo financeiro: por fim, o modelo pode ser visto como excessivamente conservador, o que é verdade, mas não tanto quanto parece. O celeiro tem como função primordial a proteção contra a inflação de um valor de até quatro anos de despesas que, assim, ficaria fora da geração de renda, o que talvez fosse exagerado. De fato, na minha proposta faria mais sentido calcular o montante necessário para a aposentadoria, a partir da taxa segura de retirada, considerando apenas o valor aportado na fazenda, tomando o celeiro e a despensa como um plus, o que talvez aproximasse de um cenário de FAT FIRE. Mas não é necessariamente assim: em um país de juros altos como historicamente é o Brasil, as aplicações conservadoras de médio prazo do celeiro podem ter rendimento equivalente àquelas de maior risco e prazo da fazenda. Por fim, é certo que minha estratégia considera um planejamento para aposentadoria que deixa todo o principal como herança após a morte. Talvez possa ser adaptado para outras hipóteses, com gatilhos para redimensionamento das três categorias ao longo do tempo, mas é mais provável que aqueles que pretendem gastar todo o dinheiro ao longo da vida se adaptem melhor a outro modelo.

6. Planejamento simplificado de aposentadoria: como eu disse no início, pensar na carteira FIRE antecipadamente é importante para direcionar os aportes durante a fase de acumulação e evitar movimentos bruscos. Assim, por exemplo, quem pretende viver de rendimentos de FII's deve ir comprando os fundos aos poucos ao longo dos anos, ainda que equilibre com outros produtos durante o caminho, e não fazer uma grande realocação imediatamente antes da aposentadoria, o que fragilizaria a carteira ante as incertezas do mercado. Na minha proposta, acredito que o planejamento seja simples: a reserva de emergência formará o limite mínimo da despensa no futuro e todo o resto da carteira de investimentos deve ser pensado, inicialmente, como fazenda, isto é, como geradora de renda no longo prazo. Quando a aposentadoria estiver próxima, esses recursos vão sendo realocados aos poucos para os produtos mais seguros e líquidos do celeiro e da despensa. No esperado dia em que a vida FIRE for decretada, é necessário que todas as categorias estejam plenamente preenchidas, dando o gás inicial necessário para esse período da vida.


MEU CASO

Essa será minha estratégia de construção de uma carteira FIRE, ao menos por enquanto (ainda falta mais de uma década, é possível que as coisas mudem no caminho).

Por ora, vai servir para me ajudar a pensar os investimentos em uma perspectiva de prazo mais alongada e para pequeno recálculo do meu índice pessoal de independência financeira.

Minhas despesas nos últimos 12 meses foram de R$ 80 mil. Pelo meu método, preciso ter R$ 80 mil para a despensa e R$ 320 mil para o celeiro. Para a fazenda, o cálculo depende da taxa segura de retirada (TSR) anual para fazer frente aos gastos efetivos. Para uma TSR de 4%, vou precisar de R$ 2 milhões; para uma TSR de 3,5%, de quase R$ 2,3 milhões; e para uma TSR de pouco menos de R$ 2,7 milhões.

Como meu modelo de carteira FIRE fazenda-celeiro-despensa já é bastante conservadora, desconsiderando o celeiro e a despensa como ativos capazes de render acima da inflação, vou trabalhar com a TSR mais generosa de 4% a.a., e, portanto, com a meta de R$ 2 milhões a serem alocados na fazenda (para efeitos práticos, é como se eu utilizasse uma TSR de 3,33% para todo o montante).

Sendo assim, em valores de hoje, eu precisaria de um total de R$ 2,4 milhões para alcançar a independência financeira com o grau de segurança que almejo. A partir dos valores de abril, estou em 43% da meta de independência financeira (contra 54% no método anterior).

Acho que esse novo cálculo reflete melhor minha sensibilidade pessoal sobre o ponto em que estou no caminho da independência financeira.

Pretendo que essa seja a forma de calcular o meu índice de independência financeira nos próximos fechamentos mensais, sempre atualizando-o em vista dos gastos efetivos dos últimos 12 meses.

A princípio, considero que chegar aos 75% da meta será o momento chave em que a vida em FIRE entra no horizonte de médio prazo e que a construção da despensa e do celeiro devem começar.


CONCLUSÃO

Minha proposta é fruto de reflexões ainda incipientes. Há muito o que ser desenvolvido, mas a distância do momento FIRE ainda permite ajustes. Espero que possa ajudar os leitores que estão na mesma jornada e lembro que estou sempre aberto a críticas, sugestões e a conhecer o que os colegas têm pensado sobre esse mesmo assunto.

Comentários

  1. Legal essa metodologia, penso em algo parecido, nossas metas FIRE também são parecidas em torno de R$2,4kk.
    Apenas discordamos quanto a geração de renda, eu gosto de ter um pouco de geração de renda, seja FII, tesouro direto ou dividendos de ações, justamente para os períodos ruins do mercado.
    Isso traz mais segurança ao plano, pois como parte da renda vem direto da fazenda, o celeiro e a despensa são menos consumidos, o que diminui a necessidade de vender parte da fazenda em períodos ruins.
    Mesmo não vivendo de renda ainda isso foi bastante perceptível nos últimos 3 anos, que foram horríveis para o preço dos ativos, mas os rendimentos dos meus FIIs se mantiveram firmes e fortes. Receber esses rendimentos ainda tem a vantagem da flexibilidade, eles contam como aporte extra, permitindo aproveitar oportunidades, hora nos próprios FIIs, hora em ações, hora no dólar baixo. Vale observar que essa vantagem dos FIIs só existe porque os rendimentos são isentos de IR, caso não fossem, não seria uma boa estratégia.
    Abraços.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A minha experiência pessoal tem sido bem negativa: três FII's de que já fui cotista deixaram de pagar dividendos por problemas diversos. Hoje não tenho nenhum, mas até voltaria a ter desde que essa renda periódica servisse para aproveitar oportunidades, como vc ponderou (FII's, ações, dólar, etc). Meu problema é planejar usar essa renda para gastos ordinários. Talvez por estar escaldado, é uma dependência que pretendo evitar ao máximo. Obrigado pela visita, Mendigo!

      Excluir
  2. Olá!

    Achei bem interessante esse sistema, é um tipo de metáfora, mas fica fácil de entender a ideia.

    Acredito que a despensa seria igual a reserva de emergência, se o investidor já tiver feito a sua antes mesmo de investir, então não terá essa preocupação quando chegar na FIRE.

    Também, ao chegar na FIRE, tem que tentar reduzir o máximo o risco do cisne negro, queda de 20%... acho que nessa parte que muita gente fica na dúvida, quanto manter em renda variável? Eu manteria muito pouco, talvez no exterior, e colocaria a maior parte em títulos de renda fixa com vencimentos casando com as datas que precisa reabastecer a despensa, ou então títulos com cupom de juros semestrais, se ainda dividir em títulos com vencimentos em anos pares e ímpares, vai receber 4x por ano os juros, fica relativamente fácil de administrar.

    Estou bem longe da FIRE, então não pensei profundamente sobre o assunto, mas acredito que farei algo assim quando chegar a hora! Um tipo de ALM, casando vencimentos dos ativos com passivos.

    Abraços

    ResponderExcluir

Postar um comentário